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O uso de telas no desenvolvimento infantil: uma reflexão sobre o autismo

Entenda o impacto e o risco para crianças neurotípicas e autistas. Nos últimos anos, a presença das telas na vida das crianças se expandiu de forma avassal...

O uso de telas no desenvolvimento infantil: uma reflexão sobre o autismo
O uso de telas no desenvolvimento infantil: uma reflexão sobre o autismo (Foto: Reprodução)

Entenda o impacto e o risco para crianças neurotípicas e autistas. Nos últimos anos, a presença das telas na vida das crianças se expandiu de forma avassaladora, acompanhando o ritmo acelerado da disseminação dos smartphones e tablets. O que, à primeira vista, poderia parecer uma oportunidade de avanço educacional, tem se mostrado uma faca de dois gumes. E é diante desse dilema que muitos pais e especialistas se veem hoje, especialmente quando o assunto é o desenvolvimento infantil de crianças no espectro do autismo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) é taxativa: crianças com menos de dois anos não devem ser expostas a telas. Para aquelas entre seis e dez anos, o limite é de duas horas diárias. Mas, em um mundo onde a tecnologia se insinua em cada canto, essas recomendações acabam se chocando com a realidade. Afinal, como impedir o acesso às telas quando a própria vida cotidiana parece girar em torno delas? E o preço desse contato excessivo já começa a aparecer. Estudos mostram que o tempo de tela prolongado pode estar por trás de problemas como insônia, dificuldades de aprendizado e, o mais preocupante, deficiências na capacidade de comunicação. Em 2023, um estudo publicado pela Brazilian Journal of Health Review trouxe informações preocupantes: crianças diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) tendem a passar mais tempo diante das telas do que o recomendado. E o resultado disso é uma redução no desenvolvimento de habilidades essenciais, como a comunicação e a socialização. "O uso excessivo de telas pode ter impactos significativos no desenvolvimento da linguagem verbal e da compreensão em crianças no espectro autista", aponta a fonoaudióloga Ana Paula Gobi, especialista em dificuldades de aprendizagem escolar. Segundo ela, o uso constante de dispositivos, como smartphones e tablets, diminui as interações sociais face a face, que são essenciais para o desenvolvimento da linguagem, fazendo com que habilidades como troca de turnos em uma conversa e leitura de expressões faciais fiquem prejudicadas. Larissa Freire, psicopedagoga especializada em avaliação e intervenção para transtornos do neurodesenvolvimento, reforça essa preocupação. Assessoria Soulmare - Divulgação "O uso excessivo das telas limita as crianças na interação entre pares, prejudicando sua comunicação e a aquisição de habilidades essenciais, como contato visual e brincadeiras compartilhadas", destaca. Freire também ressalta que crianças autistas, já com desafios de comunicação, são especialmente vulneráveis ao isolamento induzido pelo tempo de tela, uma situação que acaba por reduzir as oportunidades de aprendizado de normas sociais e de interpretação de sinais não verbais. A questão vai além da exposição passiva. A falta de estímulos adequados em casa, muitas vezes substituídos por dispositivos eletrônicos, agrava os sintomas do autismo. A educação dos pais sobre esses riscos, portanto, se torna uma peça central nesse quebra-cabeça. Não estamos falando de uma geração que apenas assiste a desenhos ou joga videogames. Estamos lidando com crianças que têm nas telas um espelho deformado do mundo real, onde a interação face a face, a troca de olhares e a compreensão do gesto humano ficam de lado. "A interação social é fundamental para que a criança desenvolva habilidades esperadas para sua faixa etária", observa Freire, enfatizando que o isolamento digital impede as crianças de participar de atividades de interação presencial, que são vitais para o desenvolvimento cognitivo e social. A ciência também mostra que as telas não apenas interferem no comportamento, mas podem, de fato, reconfigurar o cérebro em desenvolvimento. Um estudo publicado na Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva sugere que o tempo excessivo de tela pode gerar, em crianças neurotípicas, comportamentos semelhantes aos observados no TEA. Para Gobi, "enquanto certos conteúdos em telas podem ser educativos, eles não oferecem as oportunidades de imitação natural que surgem em interações humanas". Ela destaca que essa falta de modelos dinâmicos de linguagem e contexto humano limita o aprendizado, que, na infância, depende tanto da imitação quanto da comunicação face a face. Para as crianças autistas, que já enfrentam barreiras na comunicação e na interação social, o excesso de telas pode piorar esses desafios. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) alerta que o uso prolongado de dispositivos diminui as interações entre pais e filhos. E é nas interações – nos olhares, nas conversas – que o desenvolvimento social ganha força. Quando essa troca é substituída por uma tela, as habilidades de comunicação verbal e não verbal ficam comprometidas, afetando até o desenvolvimento emocional da criança. No entanto, há alternativas. A psicopedagoga Larissa Freire enfatiza que "substituir o tempo de tela por atividades ao ar livre, como brincadeiras e exercícios em família (jogos de tabuleiro, por exemplo), é essencial para devolver o contato humano e promover um desenvolvimento mais saudável". Atividades como leitura, arte e música são recomendadas por Gobi como formas de estimular a linguagem e habilidades sociais, proporcionando interações mais ricas e dinâmicas. Divulgação - Assessoria Soulmare Apesar de tudo, telas não são o único problema. A palavra que mais se repete é equilíbrio. "As telas, quando bem utilizadas, podem ser aliadas valiosas", observa Gobi. Ambas as profissionais concordam que a vigilância é fundamental, tanto no controle do tempo quanto do conteúdo. A orientação é clara: monitorar, participar e interagir com as crianças, garantindo que a tecnologia seja um complemento e não uma barreira para o contato humano. Divulgação - Assessoria Soulmare "Criar uma rotina que equilibre o tempo de tela e o contato humano é a chave", finaliza Larissa Freire, reforçando a importância das interações presenciais para o desenvolvimento emocional e social. Larissa Freire, Psicopedagoga, cursando pós-graduação em neuropsicopedagogia, atua na avaliação e intervenção para Transtornos do neurodesenvolvimento, transtornos específicos da aprendizagem e estimulação cognitiva. Divulgação Ana Paula Gobi, formada em fonoaudiologia possui especialização em Dificuldades de Aprendizagem Escolar, Especialização em Intervenção ABA Aplicada ao Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Aplicadora ABA pela Academia do Autismo e Aplicadora Denver II. Divulgação

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